Há quinze dias recebi a seguinte mensagem por SMS pela manhã: "Você bem que poderia adotar um cachorro, né?"
Era minha amiga Sue que indo ao trabalho cruzou com um cachorro que insistiu em segui-la.
A princípio achei a história um tanto absurda, como poderia eu adotar um cachorro? Morando sozinho em um apartamento pequeno no centro, não parecia o melhor lugar e nem a melhor pessoa para acolher um cachorro, mas depois de falar com ela alguns pensamentos me vieram a cabeça... entre eles, primeiro, a idéia de adotar um cachorro, me fez pensar em no quanto perderia minha liberdade. Não poderia me ausentar muito de casa por ter algo dependendo de mim para comer, higiene... então repensando, achei que seria egoismo deixar de adotar um animal por este motivo, e pelo contrário, pensando assim, isso sim me revelaria um tremendo iresponsável, afinal, não teria tantos motivos para me ausentar tanto de casa, e em caso de necessidade, dá-se um jeito! Resolvi adota-lo, ela o levou para um petshop para um bom banho, passou por consulta médica e a Sue pode trabalhar tranquila... no final do dia, quando fui busca-lo no petshop me deparei com isso:

De banho tomado, roupinha nova, penduricalhos e fitinhas, descobri que não era um cachorro e sim uma adorável cadelinha, de mais ou menos 5 anos. Seu nome, agora é Babel. Uma viralatas com minha cara!
Quinze dias se passaram, diferente de um filhote, ela tem outros hábitos, não fica comendo as coisas pela casa, não é brincalhona, mas é muito querida. carente, faz festa quando chego e enquanto estou em casa está ao meu lado. Sempre pedindo carinho.
Outra caracteristica intrigante é que ela nao faz suas necessidades fisiológicas em casa. Talvez o costume da rua contribuiu em faze-la uma cachorra muito higiênica, devido sua preferência em fazer suas "sujeiras" na terra. Na verdade esta acabou sendo minha única mudança de rotina, leva-la para passear todo dia.
Estes passeios me fizeram ter outro pensamento egoista. Eu ja tinha admitido a idéia de te-la em casa, mas como seria para Babel, estar "presa" em um apartamento, um bichinho que tinha tanta liberdade, passar tardes sozinha... confesso que até tive medo de leva-la pra rua e ela não querer voltar. Ledo engano.
É um prazer confortante quando voltamos dos passeios, solta-la da correia e ela correr em direção a porta do apartamento aguardando anciosa para que eu abra a porta, e entra fazendo festa. Não late, não uiva e não demonstra interesse em querer fugir.
Uma lição aprendida. Egoista era eu em ter dado tanto valor a uma falsa liberdade. Algumas pessoas riram desta situação e me disseram - "Você pensou mesmo que ela ia querer trocar comida e casa pra viver na rua de novo?!?"
Mas nâo foi a minha liberdade a primeira preocupação?
Cachorro não é gente, e a gente é racional, mas mesmo assim esta experiencia foi uma puta lição.
Vai saber o que a Babel já passou nesta sua vida, era livre sim, mas a que custo, a que prazer, e o que me conforta é que o que já viveu vale como experiência, e hoje, "adulta" o que realmente precisa é de um lar com carinho, comida e conforto. Assim como nós, temos sempre que ceder algo para ganhar. Não se pode ter tudo na vida, e não podemos contar com a sorte do futuro.
E não há recompensa maior do que compartilhar de sua alegria e receber carinho em troca.
Por onde passou, Babel fez sucesso não por sua história, mas pelo que representa.
Sue, obrigado pela lembrança em confiar este "presente" a mim. Pode ter certeza que estamos muito felizes!!!
Postado ao som de Belle and Sebastian - Dog on Wheels