terça-feira, 13 de outubro de 2009

Cadê meus 30 minutos?

Eis o meu primeiro dia de férias...
Muito tempo pra não fazer nada e mesmo assim sentir o tempo passar correndo feito louco.
Pensando nisso vemos como as evoluções tecnológicas vieram para nos ajudar e ao mesmo tempo onde foi mesmo que levamos vantagem?
A meia hora que eu gastava em uma agência dos correios para postar minhas cartas hoje eu gasto deletando e-mails.
Hoje estava passando pelo centro de SP quando uma amiga que nao vejo a algum tempo me ligou. Que maravilha... um viva para os celulares!!! Nos acham em qualquer lugar. Ao fundo da conversa ouvia-se um cachorro latindo, estavamos tão proximos que eu podia ouvir o mesmo cachorro ao vivo. Mas nao passamos da conversa pelo telefone, a velha correria do dia a dia... o mesmo celular que nos possibilitou de encontrar não foi suficiente para nos fazer nos ver.
E neste mesmo centro de SP estava eu no caixa eletrônico pra sacar um dinheirinho... outra coisa que nao me entra na cabeça. Antes nos bancos, tinham funcionários para tudo, agora eu mesmo tenho que operar a máquina, preencher os campos, fazer os calculos... e além de tudo pagar por isso afinal eles ainda me controlam o tanto que eu posso fazer de saque ou pagamento... pode???
E para minha surpresa a abusada da maquina nega minha operação dizendo que eu não tinha saldo para aquela operação, mesmo eu sabendo que tinha. Sim, sabia porque o banco me envia diariamente meu saldo por mensagem de texto no celular. Acho isso uma maravilha, mas espero nunca receber esta mensagem no meio de um sequestro! Muito bem, mais uma vez o tempo que eu ganhei em me dirigir diretamente ao caixa eletronico estava perdido, ja que tinha que enfrentar a fila do caixa pessoal. Motivo disso, minha segurança. Muito bem... chegando em casa fui prepar meu almoço. Lembrando que neste mundo moderno preparar o almoço quer dizer programar o microondas em 15 minutos na potencia médio alta. Minha mãe ainda leva mais de uma hora para preparar a mesma lazanha! Ok, não é a mesma. E passei estes quinze minutos levado pela lembrança da minha maezinha preparando lazanha e em uma outra conversa que tive ontem mesmo com uns amigos que diziam que fervem o leite. Mas o leite não é envazado já fervido??? Eles garantem que não é a mesma coisa. Quanto tempo leva para ferver um leite? 10, 15 minutos??? Pra beber um copo quente eu gasto 15 seg... o que eu faço com os outros 14 minutos que eu economizei?? e os 45 da lazanha? As possíveis 1 hora e meia de um almoço que não aconteceu por falta de tempo da minha amiga, deduzido os 30 minutos que não pude economizar no banco... trocando em miudos, cade meu tempo extra daquilo tudo que economizamos graças as vantagens tecnologicas da vida????
Sem falar em um outro amigo que esteve aqui neste final de semana. Ele mora no interior, a 4 horas de rodovia ou 40 minutos de avião. 40 minutos de avião??? Vejamos, eu moro a 15 minutos da rodoviária, e ele tambem da cidade dele. Levando em consideração que onibus é só chegar na hora da saida e vamo embora... 4h e meia... agora os 40 minutos de avião... bem... moro a 30 minutos da rodoviara, ele levaria quase mais tempo pra chegar no aeroporto do que o próprio tempo de voo, o voo não vai pra cidade dele, e sim uma cidade visinha, isto é, mais uma meia hora no mínimo, e ainda ele queria chegar quase uma hora antes no aeroporto pra fazer o check in... ai vemos que os 40 minutos de avião contra as 4 horas de estrada não é bem verdade... Neste fim de semana teve estreia de filme no cinema, Bastardos Inglorious... Brad Pitt, Tarantinno... isso quer dizer, filas quilométricas. Moro proximo a um dos cinemas que estava em cartaz, mas levando em consideração que estavamos no meio de um feriado prolongado (isso foi no Domingo) imaginei que seria mais fácil. Ilusão, não tinha mais ingressos. Fomos a outro cimema e tambem nao foi possivel... plano B, comprar os ingressos para o dia seguinte. Ja que estavamos ali, vamos ao menos garantir o ingresso. Feito isso no dia seguinte partimos novamente ao cinema, desta vez, calculando que não precisariamos mais perder tempo na fila da bilheteria... para a surpresa, não tinha fila, nem para a bilheteria, nem para a entrada. Ta certo, era 14h de uma segunda de feriado, mas era um shopping, e o que estava fazendo entao todo aquele povo na noite de domingo deste mesmo feriadão????? Final das contas, não economizamos tempo nenhum em comprar ingressos antes, pelo contrario, a fila do domingo estava maior. E assim agente vai levando a vida... o tempo ganho aqui, é gasto ali... e agente nem vê, nem se da conta, mas estaremos sempre achando alguma forma de economizar tempo, principalmente numa cidade caótica como São Paulo... E eu ainda me pergunto, cade meus 30 minutos!!!!

Postado ao som de Eddie Vedder - In to the Wild

sábado, 3 de outubro de 2009

The Anticrist (Lars Von Trier)


Um dos primeiros signatários do manifesto denominado “Dogma 95” surgido em Copenhague em 1995, foi Lars Von Trier. O manifesto procurava contrariar algumas tendências do “cinema comercial” e recuperar um cinema que consideravam estar morto. O Dogma 95 opunha-se ao conceito de autor, de cinema individual e efeitos especiais. Segundo tal manifesto “A tarefa ‘suprema’ dos realizadores decadentes é enganar a audiência. É disso que estão tão orgulhosos? Foi isso que ‘100 anos’ nos deram? Ilusões a partir das quais as emoções podem ser comunicadas? (...) Uma ilusão da dor e uma ilusão do amor”.

Pois bem... com este pensamento Lars criou obras primas no cinema, entre elas Dogville de 2003, com uma linguagem própria abstendo de cenários e instigando o público a pensar, principalmente enebriado com o ponto de vista pessimista de Lars sobre a humanidade.

Dogville faz parte de uma trilogia intitulada USA - Land of Opportunities. O segundo filme é Manderlay (2005) e o terceiro Washington

Trier é fanatico por trilogias, sua primeira, Europa Trology é formada por The Element of Crime (1984), Epidemic (1988) e Europa (1991).

Ainda nas trilogias temos The Golden Heart contendo Breaking the waves (1996), The Idiots (1998) e Dancer in the Dark (2000, sim aquele da Björk!).

Mas voltando ao Anticristo...
Primeiro - Não se trata de um filme te terror.

Pelo menos não ao terror a que estamos acostumados sugerido pelo título.

O filme não conta a história de alguma criança cujo nascimento terá que ser evitado para proteger a humanidade, pelo contrário, o filme se inicia com a morte de uma criança.

Com a morte do seu único filho, casal passa pelo drama desta perda e o filme se desencadeia nas etapas de uma depressão, passando pelo luto, angustia, dor... questionando que tipo de mundo nós vivemos e como é construida nossa personalidade.

Nascemos bons e a sociedade nos corrompe ou pelo contrário, nascemos maus e a sociedade nos dita uma regra de convívio que nos tira dos nossos instintos?

E se o mundo na verdade não é uma obra de Deus e nós sim somos cada um, um anticristo?

Vou me abster de criticar este filme, se seu primeiro contato com Lars for The Anticrist, conheça sua obra... vá ao cinema, locadora ou baixe mesmo pela internet, mas não os assista sozinho, pois o melhor da obra de Lars é o papo filosófico com os amigos.

O Fantástico Reparador de Feridas

Conheci o Domingos através da Diva, na estréia da peça Idiota no país dos absurdos, e não tive dúvidas em conferir mais este espetáculo que está em cartaz no Centro Cultural São Paulo até 1° de Novembro.

Três personagens, quatro monólogos e a história de uma trupe bastante incomum que viaja por cidadezinhas do interior, apresentando um número que se situa entre uma representação teatral e um culto religioso de cunho sobrenatural. Esse é o ponto de partida para as situações que acontecem na peça O Fantástico Reparador de Feridas, do irlandês Brian Friel, dirigida e traduzida por Domingos Nunez, tendo como protagonistas Walter Breda (comemorando 50 anos de carreira), Mariana Muniz e Rubens Caribé. A produção é da Cia. Ludens, grupo teatral que se dedica à montagem de textos de dramaturgos da Irlanda.

Os três personagens de O Fantástico Reparador de Feridas são Frank, Grace e Teddy. Frank (Walter Breda) é um homem que vive atormentado por possuir um dom sobre o qual não tem nenhum controle e tenta aplacar seus questionamentos com doses colossais de uísque. Sua mulher, Grace (Mariana Muniz), advogada e filha de um juiz aristocrata, acusa, defende, busca evidências e comprovações para justificar seu estado mental. Teddy (Rubens Caribé), empresário de artistas exóticos e decadentes, transita entre a frieza profissional, a admiração por Frank e uma possível paixão por Grace. Juntos, os três tentam sobreviver cobrando ingressos de inválidos em apresentações das quais podem sair curados. De vilarejo em vilarejo vão vivendo suas histórias e cada um tem sua própria versão dos fatos. Talvez o elemento de ligação que permeie a produção dramatúrgica de Friel seja o seu esforço em discutir através do teatro as diversas formas de representação da linguagem e suas convenções. Em O Fantástico Reparador de Feridas Friel constrói sua narrativa totalmente calcada nas possibilidades da metalinguagem. O rigor da carpintaria teatral, a ousadia do dramaturgo com este experimento, a temática abordada e a proposta estética sugerida pelo próprio texto são elementos que fazem desta peça um dos momentos mais criativos dentro da trajetória artística do escritor. Com o texto construído sobre a estrutura de quatro monólogos, Friel se propõe questionar a linguagem articulada como instrumento seguro para um testemunho que ateste com precisão a veracidade dos fatos. A memória, os sentimentos e interesses escusos são poderosos agentes que atuam sobre a linguagem no sentido de distorcê-la, amenizá-la, ridicularizá-la. Assim, cada uma das personagens da peça narra diretamente para a platéia, de acordo com suas próprias conveniências, alguns fatos que vivenciaram juntas durante uma época. Ao contar suas experiências, as personagens têm o intuito de convencer os espectadores e a si próprias de que aquele ponto de vista é o que mais se aproxima do que realmente aconteceu. Aos poucos, tece-se uma cadeia de informações que se complementam e se opõem e que, necessariamente, pela própria natureza da linguagem articulada, levarão os espectadores a tirar suas próprias conclusões. Extremamente atual, este texto coloca a questão da manipulação da linguagem como um dos pilares para uma possível representação do mundo contemporâneo. Em última análise, tudo depende do ponto de vista do observador que, de um modo ou de outro, relativiza os discursos a que está exposto e os reorganiza de acordo com suas próprias necessidades, sentimentos e limitações. A natureza religiosa do número que apresentam aproxima o texto do Brasil, em cujo território proliferam-se igrejas, templos e curandeiros que prometem tipos variados de curas e arrastam multidões de necessitados. Seus cultos se transformam em uma mistura de busca por um sentimento de fé genuína, com demonstrações que facilmente fariam parte de um “freak show” e exibições de cenas dignas de um filme de horror.



Postado ao Som de Elomar Figueira Mello